Pablo Gilabert

Diretor de Inovação da CYPE

“O maior desafio do sector da construção no século XXI é o desenvolvimento de infraestruturas de informação”

“A tecnologia BIM é a melhor solução para facilitar a comunicação de todos os agentes que participam ao longo do ciclo de vida de um edifício”

Que papel desempenha a I+D+i na CYPE?

Sendo uma empresa que desenvolve software técnico para arquitetura, engenharia e construção, a inovação faz parte do ADN da CYPE. Somos obrigados a trabalhar com as últimas tecnologias para desenvolver as ferramentas mais avançadas na área estrutural, instalações do edifício ou gestão orçamental de projetos e de obra, entre muitas outras áreas... E isto é algo que temos vindo a fazer desde que a empresa foi fundada.

Como é que este esforço de inovação se traduz em números?

A CYPE está certificada como empresa intensiva em I+D+i, o que significa que investimos mais de 10% do nosso rendimento ou do nosso pessoal nesta área. Se falarmos de recursos, o nosso departamento de Desenvolvimento tem mais de 100 profissionais e uma grande parte deles trabalha em temas de inovação. Nos últimos cinco anos, investimos mais de 6 milhões de euros, o que reflete a importância da I+D+i na CYPE. Como recompensa por este esforço, o Ministério da Ciência e Inovação renovou o selo de PME Inovadora à Cype, pela sua experiência nesta área.

Na atualidade, em que áreas está a CYPE a trabalhar e a acrescentar valor graças ao departamento de I+D+i?

Na CYPE estamos a desenvolver uma nova geração de produtos e serviços com o objetivo de digitalizar o sector da construção com soluções TIC. Temos dois objetivos: melhorar a competitividade dos nossos utilizadores e promover uma construção mais eficiente e sustentável.

Para o conseguir, estamos a investigar em áreas como a tecnologia Open BIM, motores avançados para o cálculo estrutural e de instalações, ao mesmo tempo que criámos diferentes soluções de Realidade Aumentada e Realidade Virtual. Tudo isto trabalhando com diferentes formatos tais como o desenvolvimento de plataformas na nuvem, aplicações móveis ou ferramentas que trabalham em novos dispositivos tais como os Smart Glasses.

Que papel desempenha e irá desempenhar a tecnologia BIM no presente e no futuro do sector da construção?

Estamos na era da digitalização e isto é algo que vai afetar qualquer sector. A construção é um caso crítico porque está em último lugar, apenas à frente da agricultura, em termos de digitalização. BIM vem resolver esta necessidade, razão pela qual na CYPE estamos a apostar nesta tecnologia, pois consideramos que é a melhor solução para facilitar a comunicação entre todos os agentes que participam ao longo do ciclo de vida de um edifício.

São muitos os fabricantes que estão a apostar na tecnologia BIM, digitalizando os seus catálogos de produtos. A este respeito, o inovador serviço Open BIM Systems que a Cype oferece aos fabricantes é um sucesso retumbante. O que é que os vossos clientes mais valorizam?

“Nos últimos cinco anos investimos mais de 6 milhões de euros, o que reflete a importância da I+D+i na CYPE"

Open BIM Systems é uma solução muito inovadora graças à qual os fabricantes podem integrar os seus produtos em projetos BIM através de ferramentas especializadas onde os seus produtos são incorporados com todo o pormenor, com base em critérios geométricos, de cálculo, regulamentação e controlo das interações com outras disciplinas. Um aspeto importante deste serviço é que trabalhamos com formatos standard e abertos, o que faz com que toda a informação gerada seja perdurável ao longo do tempo e compatível com qualquer outro sistema BIM.

A CYPE participa em projetos de investigação nacionais e internacionais. Quais é que estão ativos atualmente?

Atualmente estamos a colaborar em cinco projetos de investigação. RenoZEB é uma iniciativa europeia cujo objetivo é potenciar o desenvolvimento da reabilitação de edifícios de energia quase nula (nZEB). Por sua vez, o projeto BIMSpeed, também europeu, está focado em conseguir uma redução de até 30% do tempo gasto em projetos de reabilitação, através da utilização de sistemas BIM avançados.

“Temos dois objetivos: melhorar a competitividade dos nossos utilizadores e favorecer uma construção mais eficiente e sustentável”

Começámos também agora a trabalhar no projeto BIM Circular, que se centra na questão da economia circular no sector da construção, e continuamos a trabalhar na iniciativa BIMserver.center, um projeto do programa 'SME Instrument', com o qual queremos promover a utilização desta plataforma de desenvolvimento de projetos BIM na nuvem no âmbito internacional.

Finalmente, estamos a trabalhar no projeto de investigação austríaco BIMSavesEnergy, cujo objetivo é avaliar o impacto das decisões adotadas em matéria de eficiência energética na fase de desenho de um projeto de construção. Todas estas experiências tratam diferentes temáticas e têm diferentes objetivos, mas têm uma ligação comum que é trabalhar com a tecnologia Open BIM, que é a nossa principal contribuição para estes projetos de investigação.

O que é que a participação nestes projetos de investigação lhes proporciona?

Permite-nos criar novas redes de trabalho e partilhar conhecimentos técnicos com empresas e entidades do sector da construção de todo o mundo: empresas de hardware, centros de investigação, universidades... Tudo isto nos permite ter acesso à realidade do sector nos países parceiros participantes e é algo que nos favorece no nosso próprio desenvolvimento de software.

Mas, sobretudo, participar em projetos de investigação internacionais abre-nos a porta à criação de alianças estratégicas com parceiros que podem perdurar após o projeto de investigação. Um exemplo desta prática, que é reconhecida e aplaudida pela própria Comissão Europeia como uma história de sucesso, é a colaboração que mantemos com o CSTB (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment) desde a participação no projeto de investigação europeu Holisteec (2014) e graças ao qual lançámos no mercado diferentes soluções de software de eficiência energética e acústica para o sector da construção de utilização mundial.

“A CYPE investiga em áreas tais como tecnologia Open BIM, impressão 3D, Realidade Aumentada, Realidade Virtual com diferentes formatos como plataformas na nuvem, aplicações móveis ou Smart Glasses”

Quais são os principais desafios tecnológicos que o sector da construção enfrenta?

Se durante os séculos XII, XIII e XIV o principal desafio para o sector centrou-se no desenvolvimento de infraestruturas de água, tais como instalações de abastecimento e saneamento, ou no século XX, o principal desafio era o desenvolvimento de infraestruturas de transporte, na atualidade, o desafio é o desenvolvimento de infraestruturas de informação. É cada vez mais comum ouvir falar no nosso sector de temas como Inteligência Artificial, Machine Learning, Blockchain ou Big Data, tecnologias baseadas no processamento de informação e que na CYPE temos claro que fazem parte do presente, razão pela qual já as integrámos na plataforma BIMserver.centre.

Em que linhas de investigação e inovação é que a CYPE vai trabalhar no futuro?

A CYPE lançou uma série de projetos nos últimos anos com uma receção fantástica no mercado. A ideia é continuar a trabalhar nesta mesma linha e para isso estabelecemos para nós próprios três linhas de desenvolvimento.

Por um lado, estamos a implementar novas funcionalidades do BIMserver.center para incentivar a sua utilização em diferentes âmbitos, tais como universidades ou administração pública, algo que já pode ser visto em soluções como o CYPEURBAN que, a propósito, estamos a implementar na iniciativa 3DEXPERIENCity Virtual Rennes que Rennes Métropole está a levar a cabo para conseguir um planeamento urbano completamente digital.

Do mesmo modo, na CYPE continuamos a avançar e a promover o desenvolvimento de Open BIM Systems, razão pela qual estamos a gerar uma infraestrutura Cloud que melhora a comunicação entre agentes e aplicações. Além disso, como não podia ser doutro modo, a CYPE está a trabalhar na melhoria contínua do conjunto de ferramentas avançadas de cálculo e justificação normativa.

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