A “Asociación de Promotores Inmobiliários de Madrid” (ASPRIMA) e a CYPE desenvolveram um software imobiliário que permite validar os regulamentos urbanísticos a partir do modelo digital do edifício. Esta ferramenta, CYPEURBAN, permitirá às empresas não só agilizar os tempos de concessão de licenças urbanísticas, mas também facilitar uma comunicação mais fluida entre as câmaras municipais e as empresas, uma vez que toda a informação do projeto se encontra armazenada na nuvem, à qual ambas as entidades terão acesso. Falámos com o diretor geral da ASPRIMA, Daniel Cuervo Iglesias, sobre o desenvolvimento deste software e o impacto que ele terá no futuro do sector da construção.
O tempo de concessão de licenças urbanísticas é uma das problemáticas que existe atualmente em Espanha, uma vez que a demora das mesmas provoca aumentos nos custos da promoção e um atraso na entrega das casas. Qual é o tempo médio em Espanha na concessão destas licenças?
Atualmente, falamos de que o tempo médio nas principais cidades do país, como Madrid, é superior a nove meses.
Na sua opinião, qual seria o prazo adequado para a concessão destas licenças?
Entendemos que o prazo adequado deveria ser, aproximadamente, um terço do tempo necessário para realizar o projeto imobiliário, pelo que estaríamos a falar de aproximadamente um mês, uma vez que os projetos estão a ser realizados em cerca de três meses pelos gabinetes de arquitetura. Parece ilógico que demore três vezes mais tempo a obter a aprovação de um projeto do que a fazê-lo a partir do zero, o que nos mostra o percurso para melhorias que temos pela frente.
Para resolver este problema, desenvolveram a ferramenta digital CYPEURBAN em colaboração com a CYPE. Quais são as vantagens que tem esta nova solução, para além de agilizar o processo de licenciamento?
Mais receitas para as finanças locais. Melhoria da contratação de postos de trabalho. Descida nos preços da habitação. Otimização dos recursos da Administração. Digitalização da Administração. Contrastar o projeto, ao passar dois filtros. Tirar partido da tecnologia para serem mais eficazes. Estes são alguns dos benefícios que esta ferramenta gera.
Como é que esta ferramenta foi acolhida pelos seus associados?
Com muita esperança e entusiasmo, uma vez que os prazos que vivemos nos dias de hoje não são sustentáveis para o modelo em que o sector se baseia atualmente, o que, definitivamente, não é mais do que melhorar a qualidade do produto reduzindo os prazos na sua construção.
As câmaras municipais explicam o atraso na concessão de licenças com a falta de técnicos e trabalhadores nos serviços. O CYPEURBAN irá ajudar a melhorar o trabalho destes técnicos e a reduzir a sua carga de trabalho?
Efetivamente, esta ferramenta é para otimizar as estruturas de pessoal dos municípios e uma das suas vantagens é que os técnicos são capazes de realizar mais trabalho no mesmo número de horas.
Esta nova solução supõe digitalizar por completo o sector da construção e modificar o modelo de trabalho e de comunicação das empresas, técnicos e administração pública. O sector está preparado para uma tal "digitalização-revolução" como esta?
Totalmente preparado, uma vez que afeta diretamente a conta de resultados das empresas do sector. Cada vez são mais as empresas que estão a trabalhar com o BIM nos desenhos dos seus produtos e com a realidade virtual para a sua comercialização. Além disso, muitas habitações estão equipadas com domótica, o que permite otimizar a gestão da habitação.
Já mostraram esta solução e estão a colaborar com diferentes câmaras municipais para a implementação deste instrumento nos seus municípios. Qual foi a sua primeira impressão?
Tem sido sempre bem recebida, embora com a desvantagem de ser necessário digitalizar o urbanismo e o seu planeamento, o que nenhum município tem.
E da parte dos arquitetos e técnicos?
Muito otimistas quanto à possibilidade de esta ferramenta poder estar presente nas câmaras municipais e de poderem tramitar os seus processos com este formato.
O que pensa que faz falta para que as administrações públicas apostem realmente numa digitalização do sector da construção, como a que propõem na ASPRIMA?
Que estejam conscientes de que a utilização desta ferramenta os colocará na vanguarda da gestão pública e saibam transmitir que se trata de uma melhoria no serviço aos contribuintes, uma vez que favoreceria a atividade empresarial e permitiria um aumento na qualidade dos cidadãos ao poder usufruir das habitações quase oito meses antes.
Existe medo na administração pelo fato de trabalhar na nuvem?
Provavelmente a segurança é uma questão importante, mas está já amplamente demonstrado que a relação entre a administração e o público pode ser gerida digitalmente sem quaisquer problemas. Como toda a mudança supõe sempre reticências, mas é o único caminho a seguir, não há outras opções e quanto mais cedo tirarmos partido delas, melhor.
Esta nova forma de trabalhar entre o sector imobiliário e a administração pública é pioneira no mundo. A ASPRIMA está a planear promover esta ferramenta noutros países a longo-médio prazo?
É claro que sim. Não deve haver barreiras e quanto mais universal for, melhor para a sociedade em geral e em particular para as nossas empresas, uma vez que estas têm uma presença internacional. Penso que a marca Espanha pode beneficiar e que melhoraria a nossa relação com outros mercados.