Carlos Fernández

Diretor Técnico da CYPE Ingenieros, S.A.

"A digitalização está a transformar o sector da construção em busca de maior produtividade e competitividade"

“BIM é a porta de entrada para outras tecnologias inovadoras tais como a robótica, os drones, a realidade aumentada, a blockchain, a impressão 3D ou a Internet das Coisas”

Falámos com Carlos Fernández, diretor técnico da CYPE, sobre a evolução que este sector está a viver em busca de uma maior produtividade com a integração de novas tecnologias e sobre as soluções que a empresa de que é diretor técnico oferece, para conseguir esta digitalização e melhoria da produtividade tão necessárias.

As várias feiras e encontros de referência no sector da construção dão ênfase à digitalização, à inovação, à eficiência energética e à internacionalização. Acredita que estas áreas temáticas refletem a realidade e as tendências do sector?

Sem dúvida nenhuma. A construção é um dos sectores económicos mais importantes, representando cerca de 11% do PIB mundial, com uma previsão de crescimento de até 13,2% em 2020. Apesar disso, a construção é uma das atividades económicas que menos evoluiu em termos da sua taxa de produtividade. Nos últimos 20 anos esteve estagnada, porque não aproveitou, como outros sectores fizeram, os avanços trazidos pelas novas tecnologias. Como resultado, juntamente com a agricultura, é o sector que menos se digitalizou. Dito isto, é de destacar que o sector está a mudar e que existe agora uma predisposição por parte das empresas e dos profissionais para adotarem novas tecnologias e tirarem partido dos seus benefícios em busca de maior produtividade.

De que tecnologias está a falar?

A tecnologia Open BIM (Building Information Modelling) ou filosofia BIM, como alguns lhe chamam, é o eixo em torno do qual a estratégia de digitalização do sector da construção deve girar e está a girar. Esta tecnologia existe há décadas, mas apenas nos últimos anos tem sido implementada de uma forma generalizada em todo o mundo. A sua utilização tem benefícios inegáveis, tais como a possibilidade que dá aos projetistas de trabalhar no mesmo projeto em tempo real, a partir de locais diferentes, reduzindo custos económicos e de tempo, melhorando a qualidade dos projetos, proporcionando mais segurança... Mas não facilita unicamente o trabalho colaborativo, multidisciplinar e multi-utilizador. BIM é a porta de entrada para outras tecnologias inovadoras tais como a robótica, os drones, a realidade aumentada, a blockchain, a impressão 3D e a Internet das Coisas.

“A CYPE adaptou o seu software à tecnologia Open BIM e está a desenvolver novas ferramentas especializadas para tornar o trabalho dos projetistas mais eficiente”

Os profissionais estão suficientemente formados na utilização da tecnologia Open BIM?

Dependendo do país de que estejamos a falar, a sua implementação é maior ou menor, o que influi no conhecimento dos profissionais sobre esta nova forma de trabalhar que o BIM oferece. Nos Estados Unidos ou nos países asiáticos a sua utilização é muito popular, bem como nos países do Norte da Europa. Se nos centrarmos em Espanha, por exemplo, os profissionais e as empresas estão a começar a adotar esta nova forma de trabalhar. Nos próximos meses irá aumentar graças ao facto de o Ministério das Obras Públicas ter estabelecido que em todos os concursos públicos relacionados com a construção haja uns requisitos BIM mínimos. De acordo com o último observatório es.BIM, entre 2017 e 2018, foram registados 313 concursos públicos com algum requisito BIM.

Existe algum receio entre os profissionais sobre esta nova forma de trabalhar? Qual é a sua perceção?

O novo é sempre assustador, uma vez que implica modificar hábitos de trabalho. Nas nossas sessões de formação relacionadas com a tecnologia Open BIM e com a utilização do nosso software neste fluxo de trabalho, transmitimos sempre aos participantes que o BIM consiste em trabalhar com modelos digitais. Nada mais e nada menos. E que a sua implementação e utilização na empresa deve ser o resultado de uma transição "doce" na qual, acima de tudo, a eficiência, a rapidez, a agilidade e, definitivamente, a produtividade são primordiais. Por vezes é transmitida a ideia de que o BIM é hoje em dia uma obrigação e esta abordagem está errada. Estamos convencidos de que trabalhar com modelos digitais prevalecerá, porque é melhor para todos os agentes da construção.

Dentro desta evolução que o sector da construção vive, como é que a CYPE se adaptou a esta digitalização?

A CYPE teve claro desde o início que os diferentes profissionais envolvidos num projeto devem ter a oportunidade de trabalhar com modelos digitais e facilitar a utilização de diferentes softwares altamente especializados e cujos resultados possam ser inter-relacionados dentro do mesmo projeto graças à utilização de formatos abertos IFC. Os projetos de construção são cada vez mais complexos, devido às exigências regulamentares, aos requisitos de eficiência energética, e ao desenho e cálculo das instalações. São muitas as áreas envolvidas num projeto e, portanto, são muitos os profissionais que utilizam diferentes ferramentas de desenho e de cálculo, pelo que facilitar a inter-relação entre elas e, portanto, facilitar o trabalho dos nossos utilizadores tem sido, é e será o nosso objetivo prioritário. Por tudo isto, a CYPE adaptou todo o seu software à tecnologia Open BIM e está a desenvolver novas ferramentas especializadas para tornar o seu trabalho mais eficiente.

De que áreas estamos a falar?

“Os fabricantes perceberam que a criação de uma biblioteca digital dos seus produtos não é suficiente para os seus clientes, que pedem aplicações e software de cálculo como o oferecido pela Open BIM Systems”

O software CYPE permite aos profissionais desenvolverem os seus projetos de construção num ambiente de trabalho digital, realizando o seu desenho e cálculo em áreas tão diversas como estruturas, instalações, modelação arquitetónica e urbanística. Além disso, e dentro da nossa oferta de desenvolvimento de software, no último ano criámos o Departamento de Sistemas Open BIM, um serviço específico da empresa, para os fabricantes integrarem os seus produtos no fluxo de trabalho Open BIM através do desenvolvimento de software personalizado, onde os seus produtos são definidos com formatos standard e abertos, tornando-os compatíveis com qualquer software de modelação. Estas ferramentas altamente especializadas são uma excelente oportunidade de marketing para os fabricantes, uma vez que facilita o trabalho aos projetistas, ao permitir-lhes desenhar e calcular um projeto com os seus produtos específicos, aumentando a probabilidade de serem implementados na fase de obra.

Cita os fabricantes. Como estão eles a adaptar-se à digitalização do sector da construção?

As empresas fabricantes estão a ver como os projetistas e os seus clientes estão a exigir que os seus produtos estejam disponíveis em formato digital. Eles são os mais interessados em digitalizar os seus produtos e muitos fabricantes trabalham há anos nesta linha, digitalizando o seu catálogo ou parte dele. No entanto, os fabricantes perceberam que a criação de uma biblioteca digital dos seus produtos não é suficiente para os seus clientes, uma vez que os projetistas pedem aplicações e software de cálculo. A Open BIM Systems nasceu para responder a esta procura do mercado.

Que empresas adaptaram os seus produtos à tecnologia Open BIM com este serviço da CYPE?

Desenvolvemos aplicações altamente especializadas para empresas como a Daikin, Fujitsu, Toshiba, Inmesol, Orkli, Focchi, entre outras, e atualmente estamos a trabalhar no desenvolvimento de diferentes softwares para os produtos da Midea, empresa número 1 do mundo na venda de equipamentos de tratamento de ar, em Espanha e França. Os projetistas podem agora trabalhar com os seus produtos num ambiente Open BIM através da plataforma BIMserver.center, com o bónus adicional de poderem ver em Realidade Aumentada como os seus produtos ficariam num projeto desde a fase de desenho.

A eficiência energética é outro dos pontos de interesse no sector. O que é que a CYPE tem para oferecer neste campo?

A construção de edifícios de baixo ou muito baixo consumo energético é um dos objetivos prioritários da União Europeia. De facto, a partir de dezembro de 2020, todos os edifícios novos construídos na UE deverão ser edifícios de energia quase nula (NZEBs). Na CYPE não ficamos alheios a esta tendência que começou há anos e temos um software especializado que cobre todas as áreas no desenho e cálculo de edifícios capazes de produzir a mesma energia ou mais do que aquela que irão consumir ao longo de um ano inteiro.

Analisar o clima, definir as estratégias bioclimáticas mais adequadas, dimensioná-las, implementá-las e otimizá-las num projeto são algumas das soluções que as nossas ferramentas oferecem, as quais inter-relacionadas entre si ou com outras soluções de software através da tecnologia Open BIM, permitem fazer simulações reais, determinar a rentabilidade económica e prever os consumos energéticos de um edifício em função dos materiais utilizados, do seu isolamento ou dos equipamentos de climatização ou refrigeração instalados nos edifícios.

Estes cálculos que podem ser feitos com o software CYPE têm uma limitação geográfica?

A CYPE está atualmente a viver um período de expansão internacional e, ao dia de hoje, estamos presentes em 180 países. Para poder satisfazer os utilizadores de todo o mundo, implementámos nas nossas ferramentas motores de cálculo de reconhecimento e utilização internacional, com os quais o software pode ser utilizado com garantias em qualquer país. No campo da eficiência energética, por exemplo, CYPETHERM EPlus utiliza o motor de cálculo internacional EnergyPlusTM enquanto CYPETHERM LOADS permite verificar e compreender o comportamento do edifício no cálculo das cargas térmicas com a metodologia ASHRAE. Além disso, implementámos também no nosso software os regulamentos de eficiência energética de países como Itália e França, bem como os diferentes Eurocódigos.

Desta forma, o software da CYPE também ajuda na internacionalização das empresas espanholas?

Sim, temos implementados regulamentos de muitos países relativos a áreas de estruturas, vento, sismo, isolamento acústico, estudo térmico, instalações do edifício, segurança em caso de incêndio, etc., o que permite que muitos dos nossos clientes desenvolvam os seus projetos no estrangeiro com o software da CYPE com garantias e sem terem de alterar o seu software de trabalho habitual. São muitos os clientes que utilizam o nosso software para realizar projetos no estrangeiro, pelo que nos convertemos nos seus fornecedores tecnológicos no momento de levar a cabo os seus projetos em países novos para eles.

Related interviews