Elisabetta Delponte

Coordenadora do projeto Holisteec e Senior Engineer em D’Appolonia

"Holisteec permitirá substituir o desenho linear por um processo baseado em circuito e alimentado em cada etapa com mais detalhes"

Qual é o objetivo do projeto Holisteec?

O objetivo deste projeto europeu é desenvolver uma plataforma tecnológica com a capacidade de ser configurada como um único ponto onde reunir as diferentes partes de modelação de qualquer trabalho relacionado com a arquitetura, engenharia e construção, permitindo, facilitando e garantindo a inter-relação entre todas estas partes e entre os diferentes profissionais que participam no mesmo. Por exemplo, Holisteec permitirá inter-relacionar instantaneamente o trabalho de engenharia de um projeto com a área acústica ou térmica, fazendo simulações dos cálculos destes modelos e verificando se cumprem os requisitos legais e energéticos estabelecidos pelos regulamentos em vigor. Nesta linha, a plataforma servirá de apoio aos arquitetos e projetistas para integrar todo o trabalho que normalmente é feito por várias pessoas de uma forma totalmente independente.

Qual será, na sua opinião, a principal vantagem desta nova plataforma que planeia desenvolver?

Permitirá substituir o processo de desenho linear (desde o desenho prévio até à colocação em funcionamento) por um processo baseado em circuito, que se alimenta em cada etapa à medida que o nível de detalhe aumenta, permitindo analisar as interações mútuas entre os diferentes âmbitos.

Esta plataforma vai funcionar na nuvem?

Sim. O utilizador não terá de armazenar nada no seu computador, pois poderá trabalhar na nuvem com um único modelo, trabalhando com diferentes versões de uma forma integrada. Isto significa que se o arquiteto, por exemplo, que realiza o desenho do projeto não é o perito que faz a parte estrutural, será na plataforma que o seu projeto será integrado com o correspondente ao cálculo estrutural. Tudo poderá ser realizado instantaneamente e de forma integrada, de modo que se tiver de haver uma modificação em qualquer dos trabalhos realizados por profissionais diferentes para ajustar os cálculos, todos os profissionais participantes poderão vê-lo instantaneamente e trabalhar diretamente sobre estes pontos a melhorar.

Em que ponto se encontra o projeto (Outubro de 2015)?

Estamos no meio do projeto. O projeto tem uma duração de 48 meses e neste momento estamos no mês 25. Começámos a experimentar e testar algumas das funcionalidades da nova plataforma e embora a plataforma ainda não esteja pronta, já definimos e concebemos a arquitetura que terá, pelo que começaremos a implementá-la em breve.

Que papel vai a tecnologia BIM desempenhar neste projeto de investigação?

É um ponto realmente importante. É a base do nosso desenvolvimento. A este respeito, a plataforma não vai consistir em criar um novo software baseado na tecnologia BIM. Atualmente, profissionais de toda a Europa estão a utilizar o seu próprio software BIM, pelo que a plataforma criada no projeto Holisteec será capaz de interpretar todo o output (trabalho) realizado no software original sem necessidade de instalar outro software, fornecendo além disso os dados necessários para desenvolver e ampliar o projeto, trazendo mais valor acrescentado instantaneamente. Entre este valor acrescentado, será possível comparar a informação fornecida por todos os participantes, verificando se o trabalho e os cálculos introduzidos pelos diferentes profissionais estão bem e corretos. Isto permitirá melhorar todo o trabalho do projeto de uma forma coordenada e escolher a melhor opção. Além disso, como mencionado anteriormente, o profissional não terá de aprender a utilizar esta plataforma, uma vez que será muito simples e intuitiva de utilizar.

Já falou em incorporar informações e dados na plataforma. Estão a considerar incorporar os diferentes regulamentos de cada país da Europa para realizar os projetos?

Gostaríamos de criar uma plataforma que possa ser utilizada para apresentar projetos em todos os países da Europa, para que um trabalhador na Finlândia, por exemplo, possa desenvolver e apresentar projetos noutros países através desta plataforma. É verdade que existem diferenças entre as normas dos países e estamos a estudar a possibilidade de as integrar, com a finalidade de facilitar o trabalho dos profissionais e evitar que, depois de concluído o projeto, tenham de o rever com outras ferramentas que verificam o cumprimento das normas.

Que dificuldades tem encontrado neste projeto?

Um problema, que por outro lado é também uma virtude, é que somos 19 parceiros especializados em diferentes áreas, o que torna difícil trabalhar em conjunto, pois existem empresas especializadas em arquitetura, engenharia, desenho e programadores de software que falam a sua própria língua. Portanto, o primeiro ano de trabalho consistiu em "traduzir" a linguagem que cada um de nós fala, para a colocar em comum e estabelecer os nossos objetivos. Já passámos esta fase e estamos atualmente a enfrentar a dificuldade de integrar o software em todo o sistema-plataforma que queremos criar.

Do ponto de vista da comercialização da plataforma, existem empresas interessadas num rápido desenvolvimento da mesma?

Sabemos que existem três empresas que gostariam de testar os resultados deste projeto o mais rapidamente possível. No entanto, estamos agora na fase de arranque e temos de esperar um pouco. Na minha opinião, teremos de esperar cerca de dois anos para ver a comercialização desta plataforma.

Que tipo de empresas estarão mais interessadas em utilizar esta plataforma?

Penso que a plataforma será ideal para pequenas e médias empresas, uma vez que as grandes empresas têm uma visão mais fechada das coisas, devido à pressão a que estão sujeitas. Por outro lado, as pequenas e médias empresas, estão mais predispostas a aprender novos procedimentos e conhecimentos, pelo que poderiam ser as primeiras a dar o passo e a utilizar esta tecnologia de uma forma geral.

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